(imagem encontrada em http://www.joaobarcelos.com.br/)
"Em geral, o amor chega à velocidade da luz; a separação, à velocidade do som. É a passagem de uma velocidade para outra, a perda, que torna os olhos húmidos. Na medida em que somos seres finitos, deixar este lugar tem sempre qualquer coisa de definitivo; deixá-lo atrás de nós é deixá-lo para sempre. Porque partir é exilar os olhos nas províncias de outros sentidos, ou melhor, nas fendas e recônditos do cérebro. Porque os olhos se identificam, não com o corpo de quem fazem parte, mas com o objecto da sua atenção. E da perspectiva do olhar, por motivos puramente ópticos, a partida não é o corpo que abandona a cidade, mas a cidade que abandona a pupila. Do mesmo modo, o desaparecimento do ser amado, sobretudo quando se não faz de uma só vez, é causa de dor, seja qual for a razão de quem parte e a causa por que o faz. O mundo sendo o que é, esta cidade é o grande amor do olhar. Depois dela, tudo é decepção. A lágrima é a antecipação pelo olhar do futuro que o espera."
Joseph Brodsky, Acqua Alta