Andar em arrumações dá nisso...
Numa caixa, debaixo de uma série de álbuns fotográficos (hábito recém-perdido, infelizmente, devido às pastas informatizadas que algum dia serão consumidas por um vírus bem mais letal do que a traça), encontrei o meu único e sobrevivente diário! Não que estivesse esquecida da sua existência, mas há algum tempo que não o abria.
Pela (re)leitura da primeira entrada (24 de Dezembro de 1986), início da adolescência, constatei que não parece que várias ampulhetas foram entretanto viradas na minha vida. Será que permanecemos os mesmos ao longo desta nossa irreversível caminhada? Tudo o que fomos vivendo provocará alguma mudança profunda em nós? De facto, a voz enunciadora que escutei sobressair daquelas linhas ainda perfumadas está colada intensamente ao meu ser. Desdobrar-me em outra(s); não me reconhecer no que ali está... não me parece de todo razoável. Só talvez a caligrafia.
Prenda de Natal, o diário abre com o balanço das prendas recebidas; o estado do tempo; as notas do 1.º período; o balanço dos rapazes considerados interessantes que naquele dia passaram por mim; a referência aos quatro filmes vistos e revistos em família e à minha mãe que, na cozinha, preparava o jantar de festa. Nada de conflitos existenciais, provas de rebeldia juvenil. A vida naquele Natal fluia em branca nuvem... Será que não tive adolescência?
Será que o que estou Agora Aqui a escrever neste blogue (diário dos novos tempos?) me parecerá um dia um lugar tão familiar e próximo?