"Jantar em Dinard, para onde nos dirigimos de barco. Ao afastarmo-nos de Saint-Malo, vamos ganhando do lado do mar uma imagem de conjunto do que se designa como o espaço "intra-muros". É como se fosse um forte imenso, impressionante pelo traçado rigoroso de todas as casas, formando um só bloco de pedras, telhados e janelas. É uma mancha granítica pousada sobre o mar, iluminada pelo sol, esmagadora na sua grandeza arquitectónica, afirmação de vontade e soberania numa prosa de pedra. Mas, se nos voltarmos para o lado de Dinard, é a poesia que nos espera, ou, pelo menos, um outro tipo de ficção, já não o tempo dos corsários, mas o fascínio dos casinos, um extenso terraço sobre a praia, e começamos lentamente a imaginar, como num filme, o círculo ondulante das valsas em que os amantes durassianos se desejavam no sonambulismo alucinatório das noites de Verão."
Eduardo Prado Coelho, Tudo o que não Escrevi, vol. 2, p. 232