Em seguimento do post anterior, leiam-se as palavras de Miguel Sousa Tavares:
Cybercobardia
"Excepção feita ao correio electrónico e à consulta de "sites" informativos, a Internet interessa-me zero. Todo esse universo dos "chats" e dos blogues não apenas me é absolutamente estranho como ainda o acho, paradoxalmente, uma preocupante manifestação de um processo de dessocialização e de sedentarização das solidões para que o mundo de hoje parece caminhar. Saber que nesses "sítios" imateriais é possível fazer praticamente tudo, desde arranjar parceiros amorosos até recrutar terroristas não é, a meu ver, um progresso ou facilidade, mas uma espécie de impotência, de desistência de viver a vida como ela é.
Tenho lido muitas opiniões contrárias, de gente que acredita que os blogues e toda essa conversa in absentia são uma forma moderna de democracia de massas, directa e instantânea, como nunca houve: uma espécie de "speaker's corner" planetário. Mas discordo: não penso que a qualidade da democracia se meça pela quantidade de envolvidos e, menos ainda, pela irresponsabilidade. Não há liberdade de expressão onde existe impunidade do discurso. E se no "speaker's corner" fala quem quer, também é verdade que quem fala tem rosto a descoberto, pode ser convidado pelos circunstantes a identificar-se e pode, sobretudo, ser confrontado por estes - enquanto na maioria dos blogues o anonimato é regra, santo e senha."
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 28 de Outubro de 2006