Os melhores pintores
Ainda a propósito de pintura, os persas contam que foi um dia organizado um concurso de pintura entre dois grupos de artistas. Uns eram chineses, os outros bizantinos.
O príncipe decidiu opô-los num concurso.
Os dois grupos de pintores foram colocados numa sala que um cortinado separava em dois espaços iguais, e encarregados de decorar as duas paredes opostas.
Os chinenes pediram uma grande quantidade de pincéis, trinchas e cores de toda a espécie.
Os pintores bizantinos, para surpresa geral, não pediram nada.
No dia da inauguração o rei foi lá com toda a sua corte. Destaparam primeiro os frescos chineses e todos ficaram maravilhados. Via-se ali um trabalho insuperável.
Então destaparam a parede dos bizantinos e nessa parede viram, mas em posição inversa, as mesmas figuras e as mesmas cores da parede pintada pelos chineses. Os bizantinos tinham-se contentado em polir incansavelmente a parede, ao ponto de a terem transformado num espelho cintilante.
As pinturas dos chineses reflectiam-se nesta parede sem sofrerem das asperezas da própria parede e dos defeitos indisfarçáveis do reboco. As imagens ganhavam ali a sua pureza, uma graça, uma leveza tanto mais belas quando eram inesperadas.
Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, p. 51.