terça-feira, 21 de setembro de 2010

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     Em tom de mea culpa, assumo aqui publicamente que, em vez de estar a corrigir os testes de diagnóstico de duas turmas, estou quase, quase a terminar a leitura de Os Flamingos Perdidos de Bombaim (de que vos falei há uns posts atrás).
     De repente, esta passagem assumiu-se como fundamental...

"Karan descobriu que, com o passar do tempo, não chegara a esquecer Zaira, tal como a sabedoria convencional o fizera crer; em vez disso, começara a recordá-la melhor. As suas especificidades eram agora cortantes e resplandecentes, como a ponta de uma lança. Pormenores incontáveis agitavam-se no ar como traças perturbadas antes de gelarem lentamente para formar algo de composto e sólido, uma coisa que se encontrava numa oposição directa e indiferente à neblina da memória.
     Relutante, tristemente, começara a aceitar que um ser humano não era apenas constituído por tudo aquilo que possuía, era também constituído por tudo aquilo que perdera." (p. 346)

(Baía de Mumbai, 28 de Agosto de 2010)