«[...]"O que me interessa, escreve Alphand, não são tanto os acontecimentos históricos mas as reacções pessoais do autor perante a História."
Um diário é isso mesmo e não pode, em boa verdade, ser outra coisa. Daí esta minha paixão por memórias, biografias, manuscritos pessoais, que não é senão a contrapartida deste meu fundo antigregário e anticolectivista, desta alergia à humanidade como massa informe de vivos e de mortos, onde a morte e a vida se acumulam como formas de anonimato. Cada olhar reflecte uma imagem e é essa imagem diferente que procuro nos outros. Se o que a todos nos define é o nosso indefinível, o respeito pelos outros, a valorização da vida alheia, só a entendo através do que os aproxima daquilo que em mim é irredutível aos demais, e faz de mim - do nascer ao morrer - o meu limite e a minha última referência.»
Marcello Duarte Mathias, Os Dias e os Anos: diário 1970-1993,
Alfragide, D. Quixote, 2010, pp. 166-167
Soubessem todos, soubesse eu... ver esta diferença em mim, nos outros...