domingo, 25 de abril de 2010

Olhos Oceânicos...

(Phillip Plisson)

Inclinado nas tardes

Inclinado nas tardes lanço as minhas tristes redes aos teus olhos [oceânicos.
Ali se estira e arde na mais alta fogueira
a minha solidão que esbraceja como um náufrago.
Faço rubros sinais sobre os teus olhos ausentes
que ondeiam como o mar à beira dum farol.
Somente guardes trevas, fêmea distante e minha,
do teu olhar emerge às vezes o litoral de espanto.
Inclinado nas tardes lanço as minhas tristes redes
a esse mar que sacode os teus olhos oceânicos.
Os pássaros nocturnos debicam as primeiras estrelas
que cintilam como a minha alma quando te amo.
Galopa a noite na sua égua sombria
derramando espigas azuis por sobre os campos.
Pablo Neruda