No dia em que um dos meus professores de Literatura Inglesa recomendou a leitura de Cosmos (Carl Sagan) à minha turma de jovens universitários, recém-entrados nos verdes vinte anos, confesso que achei estranho.
O que teria Shakespeare a ver com um livro de ciência? Com o famoso cientista e astrónomo que eu conhecia dos documentários da RTP? Sinceramente, já não me lembro se, quando o acabei de ler, entendi perfeitamente a relação entre a Literatura e a Ciência... O que sei é que foi um dos livros de que mais gostei. (E não me peçam, por favor, que indique O livro, O filme, A música, O amigo, A cor de que gosto mais. Sou incapaz de tais eleições absolutistas. Deixam-me sempre ansiosa e, na dúvida, só me vêm à cabeça respostas disparatadas) Lá, li (leio) umas das mais bonitas declarações de amor que já ouvi:
"Na vastidão do espaço e na imensidão do tempo, é uma alegria para mim partilhar um planeta e uma época com Annie."
A maior parte das vezes não damos valor ao que temos à nossa volta. O quão "pequenos" somos num Universo que suspeito ser um pouco indiferente às nossas efémeras vidas. O quão especiais somos por existirmos, "encarnação local de um Cosmos que toma consciência de si próprio. Começámos a contemplar as nossas origens: pó de estrelas meditando acerca das estrelas; ajuntamentos organizados de dez mil biliões de biliões de átomos, descobrindo a longa caminhada que, pelo menos para nós, levou ao aparecimento da consciência. Devemos a nossa lealdade às espécies e ao nosso planeta. Somos nós que nos responsabilizamos pela Terra. Devemos a nossa obrigação de sobreviver não só a nós próprios, mas ao Cosmos, vasto e antigo, de onde despontámos."