(Antero de Quental, pintado por Domingos Rebelo)
A. M. C.
Porque descrês, mulher, do amor, da vida?
Porque esse Hérmon transformas em Calvário?
Porque deixas que, aos poucos, do sudário
Te aperte o seio a dobra humedecida?
Que visão te fugiu, que assim perdida
Buscas em vão neste ermo solitário?
Que digno obscuro de cruel fadário
Te faz trazer a fronte ao chão pendida?
Nenhum! intacto o bem em ti assiste:
Deus, em penhor, te deu a formosura:
Bênçãos te manda o Céu em cada hora.
E descrês do viver?... E eu pobre e triste,
Que só no teu olhar leio a ventura,
Se tu descrês, em que hei-de eu crer agora?
P.S. No poema, respeitou-se a (já?) antiga grafia. Enquanto não se definir claramente como se citam as obras relativamente a esta questão, é assim que vou agir...