quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sobre a esperança...


Que saia a última estrela
da avareza da noite
e a esperança venha arder
venha arder em nosso peito.

E saiam também os rios
da paciência da terra
É no mar que a aventura
tem as margens que merece.

E saiam todos os sóis
que apodrecem no céu
dos que não quiseram ver
- mas que saiam de joelhos.

E das mãos que saiam gestos
de pura transformação
Entre o real e o sonho
Seremos nós a vertigem.

Alexandre O'Neill, Tempo dos Fantasmas

Sobre o julgamento...

      "Cada qual agarra em mim a realidade que mais lhe convém. Há patetas que me julgam engraçadíssimo e outros que choram tédio mal envesgam a minha cara longa de gato-pingado. Horrorizo meia dúzia de pessoas com a minha má-criação, ao mesmo tempo que fascino outra dúzia com a amenidade de açúcar do meu temperamento. E depois de empolgar três ou quatro tolos com discursos inteligentes, não me importo de exibir um solo de estupidez diante dum auditório de cretinos espertos.
       A única divergência entre mim e a nuvem é que o pobre farrapo de vapor de água desliza pelo céu desprendido e alheio à opinião dos olhos dos homens... Mas eu não. Eu colaboro."

José Gomes Ferreira, O Mundo dos Outros

Sobre o instante...

Jean Gaumy
"Se acontece alguma coisa e não há um fotógrafo ou uma câmara por perto, aconteceu na mesma, mas é diferente. A fotografia ou a imagem é o que comprova a naturalidade do acontecimento, o que o certifica e autentica. Podes contá-lo ao mundo inteiro, em mil ou cem mil palavras, e o mundo acreditar-te-á. Inclusivamente, estremecerá com o relato. Mas dá-lho em imagem, e então será teu. Irás feri-lo no meio da alma, irás arranhar-lhe a razão, e comover-lhe a consciência."
 
 
Jordi Sierra e Fabra, Um homem com um garfo num terra de sopas

domingo, 18 de setembro de 2011

Sobre a inspiração...

É por ti que escrevo que não és musa nem deusa
mas a mulher do meu horizonte
na imperfeição e na incoincidência do dia a dia
Por ti desejo o sossego oval
em que possas identificar-te na limpidez de um centro
em que a felicidade se revele como um jardim branco
onde reconheças a dália da tua identidade azul
É porque amo a cálida formosura do teu torso
a latitude pura da tua fronte
o teu olhar de água iluminada
o teu sorriso solar
é porque sem ti não conheceria o girassol do horizonte
nem a túmida integridade do trigo
que eu procuro as palavras fragrantes de um oásis
para a oferenda do seu sangue inquieto
onde pressinto a vermelha trajetória de um sol
que quer resplandecer em largas planícies
sulcado por um tranquilo rio sumptuoso.

António Ramos Rosa, OTeu Rosto

domingo, 11 de setembro de 2011

Sobre as efemérides...

(Antero de Quental, pintado por Domingos Rebelo)

      Para além das quase 3000 vozes que há 10 anos se calaram de forma tão precipitada, hoje também se esgotou de vida a voz de Antero de Quental, ilustre açoriano. Foi há 120 anos.


A. M. C.

Porque descrês, mulher, do amor, da vida?
Porque esse Hérmon transformas em Calvário?
Porque deixas que, aos poucos, do sudário
Te aperte o seio a dobra humedecida?

Que visão te fugiu, que assim perdida
Buscas em vão neste ermo solitário?
Que digno obscuro de cruel fadário
Te faz trazer a fronte ao chão pendida?

Nenhum! intacto o bem em ti assiste:
Deus, em penhor, te deu a formosura:
Bênçãos te manda o Céu em cada hora.

E descrês do viver?... E eu pobre e triste,
Que só no teu olhar leio a ventura,
Se tu descrês, em que hei-de eu crer agora? 

P.S. No poema, respeitou-se a (já?) antiga grafia. Enquanto não se definir claramente como se citam as obras relativamente a esta questão, é assim que vou agir...

Para refletir...

      "Holmes e Watson montam a tenda e, depois de uma boa refeição e de uma garrafa de vinho, deitam-se para dormir.
      Algumas horas depois, Holmes acorda e diz para o seu fiel amigo:

      - Meu caro Watson, olhe para cima e diga-me o que vê.

      Watson responde:

      - Vejo milhares e milhares de estrelas.

      Holmes, então, pergunta:

      - E o que isso significa?

      Watson pondera por um minuto, depois enumera:

1. astronomicamente, significa que há milhares e milhares de galáxias e, potencialmente, biliões de planetas.
2. astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e que teremos um dia de sorte.
3. temporalmente, deduzo que são aproximadamente 3 horas e 15 minutos pela altura em que se encontra a Estrela Polar.
4. teologicamente, posso ver que Deus é todo-poderoso e que somos pequenos e insignificantes.
5. meteorologicamente, suspeito que teremos um lindo dia. Correto?

      Holmes fica um minuto em silêncio e diz:
      - Bolas... Watson, não vê que nos roubaram a tenda?!!..."

A(Hu)mor negro...

"Girl to her boyfriend: One kiss and I'll be yours forever.
The guy replies: Thanks for the early warning."

Sobre o Tempo...


(Rotemburgo, 2008)

      Amo com a mesma intensidade aquele minuto que altera o meu dia, a minha disposição, como temo a chegada daquele que me pode tirar tudo e mudar a vida para sempre...

9/11

domingo, 4 de setembro de 2011

quinta-feira, 1 de setembro de 2011