Enquanto a pele se restabelece do sol, cumpridos os compromissos familiares, tratadas as tarefas domésticas, mandadas as necessárias sms diárias aos amigos, elaboradas mais algumas fichas para a acção que anda a ser preparada, ainda resta tempo para mais um filme da extensa e sempre crescente lista de películas que, estou a ver, o deadline de 31 de agosto não vai conseguir neutralizar...
"The Ghost Writer" foi mais uma agradável surpresa.
Tocando pontos sensíveis da política internacional, nomeadamente no que diz respeito à luta contra o terrorismo, o filme conta com a tensão necessária para nos prender ao ecrã e com mais uma boa interpretação de Ewan Mcgregor. O "escritor fantasma" (Ewan Mcgregor) devia melhorar a redação das memórias do antigo primeiro-ministro inglês, que é entretanto acusado de estar envolvido em atividades ilegais ligadas à captura e tortura de suspeitos terroristas. Revoltado contra o tom recriminatório e moralista do seu "escritor fantasma", que descobre que afinal o homem que o contratara tem muito a esconder, Adam Lang (Pierce Brosnan) diz-lhe:
"- Sabes o que faria se estivesse novamente no poder? Faria duas filas nos aeroportos. Uma para voos em que não fosse preciso fazer uma verificação na procura de antecedentes, infringindo a liberdade dos civis e usando a inteligência obtida devido às torturas; e, no outro voo, faríamos tudo o que fosse possível para torná-lo o mais seguro possível. E depois íamos ver em que avião os Rycart's por este mundo fora iriam pôr os seus filhos!" (Rycart é a personagem que o acusa das práticas de tortura aos suspeitos de terrorismo.)
É verdade, de vez em quando, somos um pouco como Rycart, cheios de moralismos, sentimentalismos, imbuídos do nobre desejo do respeito pelos direitos humanos; mas, no fim do dia, em qual dos aviões colocaríamos os nossos filhos? Ou em que escola os matricularíamos? Em que país viveríamos? Em que bairro?
P.S. Se acharem que tudo isto está confuso, vejam o filme...